Trecho do livro
Paulo era alguém verdadeiramente interessado no outro. “Amor e medo se excluem reciprocamente, daí a razão da desesperada procura do amor para viver sem medo”, ele ouviu um dia do amigo e pintor romeno Emeric Marcier, também exilado no Brasil. No fim de seu primeiro ano em uma terra tão distante da sua, Paulo podia se sentir inserido em um círculo de amigos. Sua biblioteca estava repleta de livros brasileiros com dedicatórias afetuosas e manifestações de admiração. Sua mesa de trabalho vivia movimentada pela produção de artigos, traduções e roteiro de aulas de idiomas. Já havia aberto até mesmo uma nova pasta para acomodar as corres
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Paulo era alguém verdadeiramente interessado no outro. “Amor e medo se excluem reciprocamente, daí a razão da desesperada procura do amor para viver sem medo”, ele ouviu um dia do amigo e pintor romeno Emeric Marcier, também exilado no Brasil. No fim de seu primeiro ano em uma terra tão distante da sua, Paulo podia se sentir inserido em um círculo de amigos. Sua biblioteca estava repleta de livros brasileiros com dedicatórias afetuosas e manifestações de admiração. Sua mesa de trabalho vivia movimentada pela produção de artigos, traduções e roteiro de aulas de idiomas. Já havia aberto até mesmo uma nova pasta para acomodar as correspondências do período. Junto das cartas que recebia, guardava cópias das que enviava e documentos importantes. No início de 1942, Paulo mantém o hábito que o acompanharia por toda a vida. Entre seus documentos, ao lado das cópias das cartas que enviava para obter o visto de Magda e da correspondência de seus irmãos, ele guardava uma folha de papel quase transparente em que se via datilografada, provavelmente por ele próprio, a declaração do escritor austríaco Stefan Zweig, que encerrou seu exílio nos trópicos em 22 de fevereiro de 1942, envenenando-se ao lado de sua mulher, Lotte Altmann, na casa que alugavam em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.