Trecho do livro
Na noite alta de 25 de outubro de 1987, um domingo, o capitão Jair Messias Bolsonaro foi chamado ao gabinete do subcomandante da Esao, no quartel da Vila Militar, zona norte do Rio de Janeiro.
O coronel Adilson Garcia do Amaral mostrou-lhe, então, um exemplar da revista Veja daquela semana — edição 999, com data de capa de 28 de outubro — e pediu explicações sobre a matéria intitulada “Pôr bomba nos quartéis, um plano na Esao”. Tratava-se de um texto de apoio — um boxe, como se diz no jargão jornalístico — à reportagem “Ordem desunida”, não assinada. O subtítulo informava: “Sarney dá aumento de 110% aos militares, em meio a um c
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Na noite alta de 25 de outubro de 1987, um domingo, o capitão Jair Messias Bolsonaro foi chamado ao gabinete do subcomandante da Esao, no quartel da Vila Militar, zona norte do Rio de Janeiro.
O coronel Adilson Garcia do Amaral mostrou-lhe, então, um exemplar da revista Veja daquela semana — edição 999, com data de capa de 28 de outubro — e pediu explicações sobre a matéria intitulada “Pôr bomba nos quartéis, um plano na Esao”. Tratava-se de um texto de apoio — um boxe, como se diz no jargão jornalístico — à reportagem “Ordem desunida”, não assinada. O subtítulo informava: “Sarney dá aumento de 110% aos militares, em meio a um clima de descontentamento e até atos de rebeldia nos destacamentos”.
“O governo do presidente José Sarney, que começou preocupado com generais, descobre agora que na área militar a palavra-chave é capitão”, dizia a abertura da matéria. Em seguida noticiava a prisão de dois capitães do Exército na semana anterior, “por protestos contra os baixos salários que recebem”, e de dois outros que “revelaram um plano para explodir bombas em instalações militares — sem machucar ninguém, mas deixando claro sua insatisfação com os soldos”. Um dos presos era o capitão Luiz Fernando Walter de Almeida, por invadir a prefeitura de Apucarana (PR) com cinquenta comandados, todos armados, e ler para atônitos funcionários uma declaração de protesto “contra as autoridades políticas desse país”. O outro capitão, Sadon Pereira Pinto, foi preso no Rio de Janeiro por formalizar uma queixa a seus superiores na Esao, reivindicando melhores salários e criticando o governo.
Três páginas depois, vinha a matéria “Pôr bomba nos quartéis, um plano na Esao”, que levara o capitão Bolsonaro a ser chamado às falas naquela hora tardia de um domingo. “No mesmo dia [da prisão do capitão Sadon Pereira Filho], a repórter Cassia Maria, de Veja, foi à Vila Militar, um conjunto de residências e instalações do Exército na zona norte do Rio, e conversou com dois capitães que cursavam a Esao e com a mulher de um deles”, dizia o texto. “Insatisfeitos com a prisão do colega [Sadon], com seus vencimentos e com o comportamento da cúpula do Ministério do Exército, os dois militares revelaram nessa conversa um plano que a mulher batizou de ‘Beco sem Saída’, cujo objetivo era explodir bombas em várias unidades da Vila Militar, na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no interior do Rio de Janeiro, e em vários quartéis.”