Trecho do livro
A manutenção do papel moderador das Forças Armadas na Constituição atual se deveu à pressão exercida pelo ministro da Guerra, general Leônidas Pires Gonçalves. Mas é sintomático que não tenha havido sequer uma tentativa de mudança nos 39 anos de governo civil que se seguiram. Parece haver um acordo tácito em torno da ideia de que a República ainda precisa dessa bengala. Não por acaso, chefes militares repetem sistematicamente que é seu dever constitucional intervir quando julgarem que as instituições correm risco.
Cria-se, desse modo, um círculo vicioso: as Forças Armadas intervêm em nome da garantia da estabilidade do sistema polí
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A manutenção do papel moderador das Forças Armadas na Constituição atual se deveu à pressão exercida pelo ministro da Guerra, general Leônidas Pires Gonçalves. Mas é sintomático que não tenha havido sequer uma tentativa de mudança nos 39 anos de governo civil que se seguiram. Parece haver um acordo tácito em torno da ideia de que a República ainda precisa dessa bengala. Não por acaso, chefes militares repetem sistematicamente que é seu dever constitucional intervir quando julgarem que as instituições correm risco.
Cria-se, desse modo, um círculo vicioso: as Forças Armadas intervêm em nome da garantia da estabilidade do sistema político; as intervenções, por sua vez, dificultam a consolidação das práticas democráticas. Estamos presos nessa armadilha e não conseguiremos escapar dela se não construirmos uma economia forte, uma democracia includente e uma República efetiva. Não o conseguimos em duzentos anos de vida independente, e o tempo joga contra nós.