Trecho do livro
“Eu disse que o Brasil é meu país de escolha e, por isso, meu país duas vezes. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu escolhi o meu país.” Cada palavra era articulada de modo claro. Pausado. O tom da voz continha algo de melódico, mas não que fosse afinado. Os erres não eram expressos de modo forçado, porém claramente bem marcados sempre que fossem uma letra intermediária da palavra falada. Também não havia substituição do “l” pelo “u” ao pronunciar a palavra “Brasil”. A fala poderia se assemelhar a um eloquente discurso ufanista, mas, quando emitida com um pecul
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“Eu disse que o Brasil é meu país de escolha e, por isso, meu país duas vezes. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu escolhi o meu país.” Cada palavra era articulada de modo claro. Pausado. O tom da voz continha algo de melódico, mas não que fosse afinado. Os erres não eram expressos de modo forçado, porém claramente bem marcados sempre que fossem uma letra intermediária da palavra falada. Também não havia substituição do “l” pelo “u” ao pronunciar a palavra “Brasil”. A fala poderia se assemelhar a um eloquente discurso ufanista, mas, quando emitida com um peculiar sotaque italiano, não soava patriótica. Queria sim rememorar, ao seu interlocutor e a si mesma, o encantamento inicial da descoberta de um “país inimaginável”. Lina Bo Bardi tinha atravessado o oceano Atlântico seis anos e meio antes da data em que renunciara à nacionalidade do país onde nascera, tornando-se brasileira.