Trecho do livro
A energia elétrica foi interrompida, como acontece com frequência em Islamabad, e a sala escureceu. Mas o laptop dispunha de bateria e o ativista de direitos humanos que eu fora encontrar virou-o na minha direção. Um vídeo tremeluziu na tela. A imagem tremia, sub-repticiamente captada à distância. Seis jovens tropeçavam em uma área arborizada, vendados, mãos amarradas atrás das costas. Usando as tradicionais kurtas, não se pareciam com guerrilheiros. Soldados trajando uniformes do Exército paquistanês os conduziram para uma clareira e os alinharam em frente a um muro de pedra.
Um oficial barbado mais velho, talvez um comandante, ap
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A energia elétrica foi interrompida, como acontece com frequência em Islamabad, e a sala escureceu. Mas o laptop dispunha de bateria e o ativista de direitos humanos que eu fora encontrar virou-o na minha direção. Um vídeo tremeluziu na tela. A imagem tremia, sub-repticiamente captada à distância. Seis jovens tropeçavam em uma área arborizada, vendados, mãos amarradas atrás das costas. Usando as tradicionais kurtas, não se pareciam com guerrilheiros. Soldados trajando uniformes do Exército paquistanês os conduziram para uma clareira e os alinharam em frente a um muro de pedra.
Um oficial barbado mais velho, talvez um comandante, aproximou-se dos rapazes, um por um. “Vocês sabem as Kalimas?”, perguntou, referindo-se às orações religiosas islâmicas por vezes proferidas antes da morte. Então voltou a se juntar a mais de meia dúzia de soldados no outro lado da clareira. Estavam perfilados como um pelotão de fuzilamento. “Um de cada vez ou todos juntos?”, perguntou um. “Juntos”, disse o comandante. Os soldados ergueram suas armas — fuzis G3, equipamento-padrão das Forças Armadas paquistanesas —, apontaram e atiraram.
Os jovens tombaram encolhidos sobre o solo. Muitos ainda viviam, gemendo e se contorcendo no chão. Um soldado se aproximou e atirou em cada corpo, silenciando-os um a um.
Por um momento, após o fim do vídeo, ninguém disse nada. Sons de tráfego entravam por uma janela próxima. Por fim, o ativista de direitos humanos perguntou: “O que você vai fazer agora?”.