Retornando à crônica de domingo

Por Paloma Amado

Paloma Amado compartilha suas impressões sobre JORGE AMADO: UMA BIOGRAFIA

Em meados de agosto, quando saía para uma viagem de dois meses pela Europa e Estados Unidos, escrevi contando que pararia com as crônicas nestas longas férias. Esperava escrever diários de bordo, na parte marítima, e alguns diários de terra também, no tempo de Paris e depois, de New York e New Orleans. Nada disso eu fiz, acredito que o máximo foi colocar algumas fotos, uns poucos vídeos de PalomaPress, sobretudo da exposição belíssima de Klint, que fui ver por duas vezes em Paris, pois era tão linda que tinha que ser compartilhado.

Penso que minha distância da escrita se deu por dois motivos: 

Primeiro, um mergulho profundo na minha vida, devido à leitura dos originais da biografia de papai, que generosamente Joselia Aguiar me enviou para que eu lesse em primeira mão e comentasse. O segundo, o festival de porrada que recebi, algumas de amigos que pensava queridos, quando da violenta campanha eleitoral que tivemos no Brasil, e que chegava a mim rapidamente via Internet. 

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O mergulho na vida de meu pai, contado por Joselia, foi imenso e devastador. Precisei de máscara de oxigênio e mesmo assim perdi o fôlego. Muitos temas difíceis, daqueles que nos fez sofrer, eram amargos de tragar. Logo que papai morreu, mamãe me intimou a fazer a sua biografia. Disse a ela que não, tinha parti pris, me sentia (e sinto) absolutamente comprometida, jamais faria algo isento. Agora me via frente aos temas que não desejara enfrentar, e a catarse a ser feita não era coisa fácil, passível de solução imediata.

Somente depois de voltar ao Brasil, ir a Brasília e conversar com minha filha Mariana, uma psicóloga nata, muito melhor que a mãe que estudou por anos, fiz um “ufa", e pude dar por resolvidas as minhas questões de infância e adolescência, e, sobretudo, aquelas da vida adulta, tantas vezes postergadas. De devastada, fui renascida.

Só posso ser grata a Joselia, ter me permitido passar por todo esse processo. Às vezes, ser filha de um grande homem e de uma grande mulher é tarefa dura. Eu não achava que era assim. Era! Agora que me confrontei com todas as questões, me sinto leve e feliz. Aproveito para recomendar a biografia, que é um livro maravilhoso.

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Obrigada Joselia, obrigada minha Nana, obrigada minha Ci.


Será que esta é uma volta à escrita ou somente uma explicação aos meus leitores que têm cobrado por uma continuidade nas crônicas de domingo? Espero, sinceramente, voltar. Se faz bem a vocês a leitura, a mim, escrever é essencial. E depois, ler os comentários, uma imensa felicidade.

 

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Reprodução de crônica publicada pela escritora Paloma Amado, filha de Jorge Amado e Zélia Gattai, no Facebook. Paloma bate papo com a autora Joselia Aguiar e o Gildeci Leite, ensaísta e professor de literatura da UNEB, dia 27 de novembro (terça-feira), às 19h, no lançamento de JORGE AMADO: UMA BIOGRAFIA, no Palacete das Artes, em Salvador.

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