Resoluções de Ano-Novo para os outros em ordem alfabética

Por Fran Lebowitz

Para 2023, um texto na escrita ácida que marca O ALMANAQUE DE FRAN LEBOWITZ.

Ao ser contatado por um cliente, eu, como operador de um serviço de recados por telefone, farei o máximo esforço possível para evitar suspirar de um jeito que sugira que, para atender a essa solicitação, eu fui obrigado a interromper um procedimento cirúrgico neurológico extremamente complexo, pois esta é, afinal, a minha verdadeira profissão.

Baixa em estatura e não mais tão jovem assim, reprimirei eternamente o mais remoto desejo de usar qualquer coisa vagamente parecida com uma legging de couro.

Cookies com gotas de chocolate são algo cujo valor, possivelmente, anda muito superestimado nos últimos tempos. Não vou piorar ainda mais a situação abrindo um estabelecimento de nome engraçadinho para vender esses itens por preços mais adequados à quitação de um semestre na Faculdade de Direito de Harvard.

Desenhos engraçadinhos feitos com lápis de cor é uma coisa com a qual eu nunca, jamais, decorarei minha correspondência pessoal, não importa o quanto isso daria às minhas cartas um toque colorido de capricho.

Embora eu seja estupendamente bilíngue, nunca mais tentarei puxar o saco de um garçom pedindo a carta de vinhos com um sotaque francês deliberadamente insinuante.

Faz-se imperativo que, no meu trabalho como cabeleireiro, eu tenha sempre em mente que: dez centímetros não é o mesmo que “cortar as pontinhas”.

Grande coisa que eu tenha um talento para a política internacional: reprimirei quaisquer impulsos de exibir essa habilidade para quem está ao meu lado.

Humilhe-se, se quiser. Pode até implorar. Prometo jamais revelar qualquer informação privilegiada que eu possa ter obtido através de um amigo muito íntimo que estica as telas de pintura para um artista famoso.

Irrefutável o fato de que sou presença constante, para não dizer permanente, até mesmo nos eventos públicos mais obscuros, de modo que me comprometo a parar, de uma vez por todas, de dizer para as pessoas que eu nunca saio de casa.

Já parou para pensar que não é por que você é o dono do restaurante que tudo bem colocar no cardápio um prato cujo nome é um trocadilho com o nome de um jogador de futebol?

Ketchup é uma mancha que não sai de carpete, então não é uma boa ideia instalá-lo na cozinha, não importa o quanto a decoração seja industrial e altamente tecnológica, toda em cinza muito escuro. Agora eu sei disso. 

Lindas até são, mas não importa o quanto sejam grandes, numerosas ou bem distribuídas, almofadas não contam como móveis. Comprarei um sofá.

Mas que me caia um raio na cabeça da próxima vez que eu cogitar a possibilidade de que alguém está interessado em ouvir sobre o quanto eu achei os brasileiros um povo caloroso e bonito quando estive no Rio para o Carnaval do ano passado.

Nunca mais usarei chapéu.

Opinar sobre restaurantes caros escrevendo textos exageradamente entusiasmados não é muito proveitoso. Vou arrumar um trabalho de verdade.

Pense muito bem antes de supor que uma conversa educada pode incluir, dentro de seus limites, perguntas ligadas ao paradeiro daquele dançarino lindíssimo que estava com ele da última vez que você o viu.

Quem sabe parar completamente de usar a palavra “brilhante” para se referir aos editores de acessórios das revistas europeias de moda seja uma boa ideia?

Ridículo tratar framboesas como se fossem uma substância controlada — mesmo quando não está na época. Como dono de restaurante, tenho acesso fácil e legal a elas. Serei mais generoso.

Sucesso é uma coisa para a qual eu devo me vestir quando chegar lá, não até isso acontecer. Juro por tudo que há de mais sagrado.

Tudo bem, já entendi: gravatas, até mesmo essas mais fininhas, não são tão importantes assim. Vou tentar não confiar tanto nelas.

Uma coisa boa de ter em mente: não discutirei filmes de ficção científica japoneses de uma perspectiva artística a menos que me peçam especificamente para fazer isso.

Violeta só será uma boa cor para cabelos quando moreno for uma boa cor para uma flor. Não me esquecerei disso.

Winchester realmente pode ser um tipo de sofá, mas da próxima vez que alguém vier me consultar sobre móveis antigos, responderei a todas as perguntas de forma racional e educada, sem nunca dar moral para esses colecionadores idiotas que sabem o valor de tudo e o preço de nada.

X não é uma letra fácil — ou muitíssimo difícil — do alfabeto de encaixar num texto como este. Prometo que não vou nem tentar.

York, Nova. Nova York. Cheia de jovens e, pelo menos aqui, a juventude neles não é nem um pouco desperdiçada. Eles a aproveitam muito bem. Não dá para ignorar isso.

Zelda Fitzgerald, por mais fascinante que ela inquestionavelmente pareça ter sido, me comprometo agora mesmo a parar de imitá-la.

 

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Fran Lebowitz nasceu em 1950 em Morristown, em Nova Jersey. Mudou-se para Manhattan nos anos 1970, onde trabalhou como jornalista e aproximou-se de figuras como Andy Warhol e Robert Mapplethorpe. É autora de VIDA METROPOLITANA (1978) e ESTUDOS SOCIAIS (1981).


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