Os livros de Olga Tokarczuk
A vencedora do Prêmio Nobel de Literatura e autora de SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS comenta dez livros, bons e ruins, fundamentais para sua formação literária
1. O livro que estou lendo
Homo deus, de Yuval Noah Harari. Este é o segundo livro dele que estou lendo* e é muito inspirador – sem contar a bela coleção de contos de mistério. Já publiquei dez livros na Polônia e hoje acho que deveria ter lido Harari antes de escrevê-los.
* em agosto de 2018
2. O livro que mudou minha vida
Li pela primeira vez Além do princípio do prazer, de Sigmund Freud, quando era garota, e o livro me ajudou a compreender que existem milhares de jeitos possíveis para interpretar nossas experiências, que tudo possui significado e que a interpretação é a chave da realidade. Este foi o primeiro passo para que eu me tornasse uma escritora.
3. O escritor que influenciou minha escrita
Acho que na Polônia muitos escritores dariam a mesma resposta: Bruno Schulz, cujas histórias belas, sensíveis e significativas levaram a língua polonesa para um nível completamente novo. Eu o amo, mas também o odeio, porque não existe jeito de competir com ele. Ele é o gênio da língua polonesa.
4. O livro que é mais subestimado
The doll, por Bolesław Prus. Uma história de amor com fundo social na Polônia do fim do século XIX. É um belo texto, seguindo a tradição literária polonesa daquele período, e quando você a compara com o que estava sendo escrito em outras partes do mundo, consegue perceber sua sagacidade.
5. O livro que virou minha cabeça
Prefiro escolher dois autores, em vez de de títulos específicos, do universo da poesia. Quando eu era adolescente, me apaixonei por T.S. Eliot. O primeiro livro que li dele roubei de uma biblioteca, depois comecei a colecionar todas as suas obras. Meu poema predileto é o The love song of j alfred prufrock [A canção de amor de j alfred prufrock]. O segundo é Czesław Miłosz, que foi um grande poeta e também um grande articulista, que mudou minha visão sobre a escrita.
6. O livro que me fez rir
Eu acho muito engraçado o livro de Leonora Carrington, The hearing trumpet. É um romance louco e espirituoso sobre um narrador nada confiável de 92 anos, que influenciou meu romance Sobre os ossos dos mortos. Li durante os anos do comunismo e isso me fez perceber o quão sortudos nós éramos naquela época, com tanta literatura traduzida para o polonês.
7. O livro que não consegui terminar
Finnegans wake, de James Joyce. Sei muito sobre o livro, mas não me pega muito.
8. O livro que sinto vergonha de não ter lido
The rings of saturn é um dos dois livros de W.G. Sebald que ainda está na minha lista.
9. Minha memória de leitura mais antiga
Meus pais lendo para mim quando eu era uma garotinha, não só contos de fadas, mas também alguns livrões como os romances históricos de Henryk Sienkiewicz, quando eu tinha uns seis anos.
10. Livro de cabeceira
Gosto de retornar sempre à ficção científica de Stanisław Lem. Ele é acolhedor e engraçado, e embora eu conheça seus livros, sempre há algo novo para ser descoberto.
*Texto traduzido por Guilherme Ziggy. Publicado originalmente no jornal inglês The Guardian em 24 de agosto de 2018. Leia aqui na íntegra (em inglês).