5 escritores do escritor
As referências de Ricardo Piglia nos diários de Emilio Renzi
Ricardo Piglia, morto em janeiro deste ano, foi um dos maiores ficcionistas e críticos argentinos. Em ANOS DE FORMAÇÃO: OS DIÁRIOS DE EMILIO RENZI encontramos – reescritos, recompostos, revisados – os diários que escreveu entre os 17 e 30 anos. Fala de tudo, ou quase: amor, Borges, cinema, caminhadas em Buenos Aires, noites insones, política. Mas fala acima de tudo de literatura e do quanto os livros ajudam a ordenar nossos pensamentos neste mundo um tanto caótico. Para mostrar um pouco do quanto a literatura permeia esses diários, trouxemos comentários de Piglia - ou melhor, de Emilio Renzi - sobre 5 escritores, entre muitos outros presentes no livro.
Gabriel García Marquez
García Márquez conta o cotidiano como se fosse fantástico (como na excursão para ver o gelo) e conta o extraordinário como se fosse corriqueiro (as mulheres voam sem o menor problema).
Franz Kafka
Kafka: “Uma pessoa que não tem um diário está numa posição falsa em relação ao diário de um outro”. Quando Kafka lê no diário de Goethe que este passou o dia inteiro ocupado com seus afazeres, pensa que ele nunca fez tão pouca coisa durante o dia inteiro. No futuro alguém poderá ler esta minha reflexão sobre o diário e verá aqui uma reflexão de Kafka sobre o diário e também uma reflexão de Goethe sobre um dia de sua vida.
F. Scott Fitzgerald
Fitzgerald foi capaz de realizar melhor do que ninguém a fantasia de ser escritor. Nunca chegaria a ser famoso como um ator de cinema, mas a notoriedade que alcançaria seria provavelmente mais duradoura; também não teria o poder de um homem de ação, mas sem dúvida seria mais independente. Claro que na prática desse ofício estamos sempre insatisfeitos, mas eu, por exemplo, não escolheria outro destino por motivo algum.
Fiódor Dostoiévski
Eu tinha passado o sábado inteiro lendo O idiota porque estava escrevendo um conto sobre um joalheiro que eu gostava de imaginar como uma espécie de príncipe Míchkin, mas dali a pouco já tinha me esquecido de tudo e estava mergulhado no romance de Dostoiévski. O caráter destrutivo da bondade fazia a história avançar com a violência metálica de um trem que sai dos trilhos e arrasa tudo o que encontra pelo caminho. A compaixão anula o Príncipe e Natasha Filippovna, que se confrontam em cenas de incrível intensidade. Fui fisgado pela intriga, e quando dei por mim já era mais de meia-noite e tinha me esquecido dos meus amigos e especialmente da Vicky, uma linda ruiva com quem eu namorava na época.
James Joyce
Para mim, a questão trabalhada por Joyce tem a ver com os limites da linguagem. Como se a língua fosse um território depois do qual há um vazio, cujo efeito é a literatura.
No dia 7/11, às 19:00, acontece o lançamento do livro com bate-papo com Júlio Pimentel Pinto e Sérgio Molina, com mediação de Paulo Werneck; e exibição de um filme inédito sobre o autor, protagonizado por alguns de seus conhecidos e escritores brasileiros que admiram sua obra. Ganhe uma edição da revista dos livros, Quatro Cinco Um, na compra de um exemplar do livro no evento. No Instituto Cervantes (Av. Paulista, 2439). Participe do evento no Facebook.