Dormiu aflito, com as preocupações deformando-se em sonhos. Em certo momento pensou que talvez fosse melhor não ir, ainda mais porque a estrada que tinha que pegar era a mesma onde morreram seus pais, e, além disso, se chegasse a Buenos Aires, não saberia como se deslocar pela imensidão de ruas desconhecidas, nem o que aconteceria caso o amigo de seu irmão não o deixasse ficar para dormir. O que mais o assustava, porém, e acabou confessando a si mesmo, era o encontro com Sabrina Love; ela devia estar disposta a se deitar com um homem experiente, e não com um adolescente que nunca tinha estado com uma mulher. Sabrina Love, a estrela do amor, em vez de empregar seu conhecimento, teria que se limitar a ensinar a ele as coisas básicas, embora isso talvez não fosse tão ruim; pensando bem, sua cena favorita dos filmes da atriz era uma em que ela era uma professora e obrigava um aluno a ficar depois da aula. “Não devo olhar mais as pernas da professora Sabrina”, ditava-lhe ela, sentada de pernas cruzadas numa mesa. “Não devo olhar as partes traseiras da professora Sabrina enquanto ela escreve na lousa”, e ela parava de costas para ele, rabiscando com giz e levantando devagar o avental branco e curto até aparecerem suas nádegas douradas e redondas, feito dois planetas siameses. Finalmente o aluno a penetrava por trás enquanto ela, reclinada sobre a mesa, comia, entre uivos e grandes dentadas, a maçã que ele tinha lhe dado de presente. Não esperou que soasse o despertador. Assim que viu desenhar-se na janela um retângulo azul, se levantou e começou a se vestir desajeitadamente, despenteado, com um ar de marionete sonâmbula. Depois juntou o papel com os endereços, os vinte pesos que lhe sobravam, a malinha que tinha preparado com pouca roupa e alguns sanduíches, e saiu de casa tomando cuidado para não fazer barulho.