Trecho do livro
Jean-Claude Van Damme foi a epifania. Numa das cenas do filme Kickboxer, um dos filme de porrada que mais debate gerou na Benguela da minha meninice, tornando-se um dos favoritos da minha geração, o ator belga, o próprio rei da espargata, dança embriagado ao som do tema “Feeling So Good Today”, de Beau Williams, acompanhado por duas tailandesas.
A icónica cena de Van Damme a dançar de forma desengonçada e sem ginga, movendo o corpo sem mexer o quadril, que parecia preso — ou duro —, acendeu uma luz qualquer em Tony Amado, nosso Joseph Smith Jr., que, usando o molde rítmico dessa coisa eletrónica a que chamávamos batida, saltou ins
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Jean-Claude Van Damme foi a epifania. Numa das cenas do filme Kickboxer, um dos filme de porrada que mais debate gerou na Benguela da minha meninice, tornando-se um dos favoritos da minha geração, o ator belga, o próprio rei da espargata, dança embriagado ao som do tema “Feeling So Good Today”, de Beau Williams, acompanhado por duas tailandesas.
A icónica cena de Van Damme a dançar de forma desengonçada e sem ginga, movendo o corpo sem mexer o quadril, que parecia preso — ou duro —, acendeu uma luz qualquer em Tony Amado, nosso Joseph Smith Jr., que, usando o molde rítmico dessa coisa eletrónica a que chamávamos batida, saltou inspirado para o sintetizador, sacando praticamente de uma assentada só o clássico Amba kuduro, uma homenagem à “musa” Jean -Claude. E assim nasceu, em género e dança, o kuduro.
Aquela coreografa sugestiva acabaria por se tornar o veículo através do qual se expandiria o kuduro, uma dança vizinha do break dance norte-americano, que não se inibe na apropriação e recriação de passos de danças originárias de outras latitudes africanas, como o ndombolo do Congo, bem como elementos plásticos reconhecidamente angolanos, procurando, de forma natural e progressiva, um acabamento musical em que a melodia e a harmonia são visivelmente relegadas para um plano secundário, enfatizando o ritmo e a palavra inusitada.
Vaca Louca e Salsicha, dançarinos que acompanharam tanto Tony Amado como Sebem, outro dos pioneiros do kuduro, são dois nomes de referência incontornável, e que levaram ao apogeu a plástica mais arrojada desta dança acrobática.