Trecho do livro
No início, ou bem antes disso, não havia tempo. Segundo os cosmólogos, o universo começou há cerca de 14 bilhões de anos com um “big bang” e num instante se expandiu para algo perto de seu tamanho atual e continua a se expandir, a uma velocidade mais rápida que a da luz. Antes de tudo isso, no entanto, não havia nada: nem massa, nem matéria, nem energia, nem gravidade, nem movimento, nem mudança. Nem tempo.
Talvez você possa imaginar como seria isso. Eu não consigo compreender. Minha mente se recusa a acolher essa ideia, e em vez disso insiste: de onde veio o universo? Como pode algo aparecer do nada? Em termos hipotéticos, vou ace
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No início, ou bem antes disso, não havia tempo. Segundo os cosmólogos, o universo começou há cerca de 14 bilhões de anos com um “big bang” e num instante se expandiu para algo perto de seu tamanho atual e continua a se expandir, a uma velocidade mais rápida que a da luz. Antes de tudo isso, no entanto, não havia nada: nem massa, nem matéria, nem energia, nem gravidade, nem movimento, nem mudança. Nem tempo.
Talvez você possa imaginar como seria isso. Eu não consigo compreender. Minha mente se recusa a acolher essa ideia, e em vez disso insiste: de onde veio o universo? Como pode algo aparecer do nada? Em termos hipotéticos, vou aceitar que talvez o universo não existisse antes do Big Bang — mas ele explodiu a partir de alguma coisa, certo? O que era? O que existia antes do início?
Propor essas questões, disse o astrofísico Stephen Hawking, é como estar no polo Sul perguntando em que direção fica o sul: “Tempos anteriores simplesmente não são definíveis”. Talvez Hawking esteja tentando nos tranquilizar. O que ele parece estar dizendo é que a linguagem humana tem um limite. Nós (ou ao menos quase todos nós) chegamos a esse limite sempre que refletimos sobre o cósmico. Imaginamos por meio de analogias e metáforas: essa coisa estranha e vasta é parecida com essa coisa menor e mais familiar. O universo é uma catedral, um mecanismo de relógio, um ovo. Mas no fim as paralelas se afastam; só um ovo é um ovo. Essas analogias são sedutoras precisamente porque são elementos tangíveis do universo. Como termos, são autocontidos e autocontinentes — mas não podem conter o continente que os mantém.
O mesmo sucede com o tempo. Sempre que falamos sobre ele, fazemos isso em termos de algo menor. Achamos ou perdemos tempo, como se fosse um molho de chaves; nós o poupamos ou gastamos, como se fosse dinheiro.O tempo rasteja, arrasta-se, voa, escapa, flui e fica parado; é abundante ou escasso; pesa em nós, com um peso palpável. Os sinos repicam por um “longo” ou “breve” tempo, como se seu som pudesse ser medido com uma régua. A infância recua, os prazos se distendem. Os filósofos contemporâneos George Lakoff e Mark Johnson propuseram um experimento mental: pare um instante e tente se referir ao tempo apenas em seus próprios termos, destituído de qualquer metáfora. Você vai ficar de mãos vazias. “Será que para nós o tempo ainda seria tempo se não pudéssemos desperdiçá-lo ou orçá-lo?”, eles se perguntam. “Achamos que não.”