Trecho do livro
Nada dura para sempre. A democracia sempre esteve destinada a passar, em algum momento, para as páginas da história. Ninguém, nem mesmo Francis Fukuyama — que anunciou o fim da história em 1989 —, jamais acreditou que suas virtudes a tornassem imortal. Mas até bem pouco tempo, a maioria dos cidadãos das democracias ocidentais teria imaginado que o fim ainda estava distante. Jamais esperariam que ocorresse durante as suas vidas. Pouquíssimos pensariam que pudesse vir a acontecer diante dos seus olhos.
Mesmo assim, aqui estamos, antes de a segunda década do século XXI se completar, e nos defrontamos com a pergunta que ninguém esperav
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Nada dura para sempre. A democracia sempre esteve destinada a passar, em algum momento, para as páginas da história. Ninguém, nem mesmo Francis Fukuyama — que anunciou o fim da história em 1989 —, jamais acreditou que suas virtudes a tornassem imortal. Mas até bem pouco tempo, a maioria dos cidadãos das democracias ocidentais teria imaginado que o fim ainda estava distante. Jamais esperariam que ocorresse durante as suas vidas. Pouquíssimos pensariam que pudesse vir a acontecer diante dos seus olhos.
Mesmo assim, aqui estamos, antes de a segunda década do século XXI se completar, e nos defrontamos com a pergunta que ninguém esperava: é assim que a democracia chega ao fim?
Como tantos outros, deparei-me pela primeira vez com essa pergunta depois da eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Para emprestar uma expressão da filosofia, parecia a reductio ad absurdum da política democrática: qualquer processo que chegue a uma conclusão tão ridícula só pode ter cometido um erro sério em algum ponto do caminho. Se Trump é a resposta, não estamos mais fazendo a pergunta certa. Mas o problema não é só Trump. Sua eleição é sintomática de um clima político superaquecido que parece cada vez mais instável, fraturado pela desconfiança e pela intolerância entre as partes, alimentado por acusações insensatas e bravatas virtuais, um diálogo de surdos que se afogam mutuamente na balbúrdia. Em muitos lugares, e não só nos Estados Unidos, a democracia começa a dar a impressão de que vem saindo dos eixos.