“Um dos maiores pesquisadores de desigualdade na atualidade, Milanović se vale de um minucioso trabalho de dados para examinar o presente e o futuro do capitalismo em seu mais novo livro.”
Laura Carvalho, autora de VALSA BRASILEIRA (Todavia, 2018), no Nexo
Trecho do livro
Há uma velha ideia, defendida por autores consagrados como Platão, Aristóteles e Montesquieu, segundo a qual um sistema político ou econômico se sustenta ao manter uma relação harmoniosa com os comportamentos e os valores prevalecentes em uma determinada sociedade. Trata-se de algo certamente verdadeiro no capitalismo atual. O capitalismo tem sido notavelmente bem-sucedido em incutir nas pessoas os seus objetivos como sistema, induzindo-as ou persuadindo-as a adotarem suas metas e construindo, assim, uma convergência extraordinária entre o que o capitalismo necessita para sua expansão, de um lado, e as ideias, os anseios e os valores das pessoas, do outro. O capitalismo foi muito mais bem-sucedido do que seus rivais ao criar a condição necessária, segundo o filósofo político John Rawls, para a estabilidade de qualquer sistema, a saber: que em suas ações cotidianas os indivíduos expressem — e assim reforcem — os principais valores nos quais se baseia o sistema social.
O domínio do capitalismo no mundo todo se dá, porém, com dois tipos diferentes de capitalismo: o capitalismo meritocrático liberal, que se desenvolveu progressivamente no Ocidente ao longo dos últimos duzentos anos (tema do capítulo 2), e o capitalismo político ou autoritário liderado pelo Estado, cujo exemplo maior é a China, mas que existe também em outras partes da Ásia (Singapura, Vietnã, Burma) e em regiões da Europa e da África (Rússia e países do Cáucaso, Ásia Central, Etiópia, Argélia, Ruanda), tema do capítulo 3.