Nascido em uma família tradicional e proeminente da cidade de Leipzig em 1842, é internado em uma clínica psiquiátrica em razão de uma crise hipocondríaca aos 42 anos de idade, numa época em que já ocupava altas posições em sua carreira de Estado como jurista. Nove anos depois ele é afastado da presidência da Corte de Apelação de Dresden e inicia um longo período de internação que terá nove anos de duração. Nos anos finais desta segunda internação Schreber redige estas Memórias, que apresentam seu sistema de pensamento e suas concepções religiosas, às quais ele continua a atribuir grande valor mesmo após retomar a vida em liberdade: “Sou também apenas um homem e, portanto, preso aos limites do conhecimento humano; só não tenho dúvida de que cheguei infinitamente mais perto da verdade do que os outros homens, que não receberam as revelações divinas”. Nesse período elabora ainda a defesa jurídica do fim de sua internação e das interdições impostas a ele, em um documento presente neste volume (“Em que condições uma pessoa considerada doente mental pode ser mantida reclusa em um sanatório contra a sua vontade manifesta?”). Schreber recupera a liberdade e os direitos civis ao completar sessenta anos de idade, em 1902, mas volta a ser internado em 1907 após a doença e o falecimento de sua esposa. Morre em 1911, ano em que Sigmund Freud publica uma interpretação psicanalítica de suas Memórias, iniciando a inusitada celebridade do livro e do nome de seu autor.