Trecho do livro
Era Nietzsche quem dizia que só tem valor aquilo que a gente lembra e que a gente só lembra do que dói. Mas “doer”, nesse contexto, pode ser sinônimo de “prazer”. Melhor dizendo: algo que nos toca muito fundo, entre a dor e o prazer. Numa escala muito diminuída, mas afinal da mesma natureza, a lembrança de momentos assim nos textos tem algo a ver com isso. Algo daquela forma mansa de loucura que é viver tão intensamente entre palavras e sons. É o prazer da experiência em si da escrita, que retorna, tantos anos depois, quase como se não houvesse intervalo, como se os dois momentos, passado e presente, existissem num mesmo plano e pud
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Era Nietzsche quem dizia que só tem valor aquilo que a gente lembra e que a gente só lembra do que dói. Mas “doer”, nesse contexto, pode ser sinônimo de “prazer”. Melhor dizendo: algo que nos toca muito fundo, entre a dor e o prazer. Numa escala muito diminuída, mas afinal da mesma natureza, a lembrança de momentos assim nos textos tem algo a ver com isso. Algo daquela forma mansa de loucura que é viver tão intensamente entre palavras e sons. É o prazer da experiência em si da escrita, que retorna, tantos anos depois, quase como se não houvesse intervalo, como se os dois momentos, passado e presente, existissem num mesmo plano e pudessem agora se sobrepor.
Pensando com cabeça de editor, este livro também tem uma dupla pegada. É uma seleção de textos muito diversos, tanto na forma quanto no conteúdo, sobre música e literatura, de um autor que chega aos sessenta anos. Reúne, em especial, alguns que já não estavam facilmente acessíveis, pelos motivos mais variados; e guarda a esperança de ser uma coleção de ensaios, resenhas e notas a serem lidos por prazer. Foram, aliás, escolhidos com isso em mente (excetuando alguns textos mais especializados, que podem interessar a estudiosos de, por exemplo, Coleridge ou Beethoven).