Trecho do livro
Meu pai odiava os judeus e o fazia sem qualquer exceção. Até mesmo os velhos humildes. Tratava-se de um ódio antiquíssimo, enraizado, transmitido de geração em geração, para o qual não era mais necessário apresentar qualquer tipo de justificativa. Qualquer motivo, até mesmo o mais absurdo, bastava para lhe dar razão. É evidente que ninguém mais acreditava que os judeus tivessem a ambição de dominar o mundo porque esse domínio lhes teria sido prometido, muito embora eles de fato estivessem se tornando cada vez mais ricos e cada vez mais poderosos, segundo se dizia, especialmente nos Estados Unidos. Mas histórias a respeito de uma ter
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Meu pai odiava os judeus e o fazia sem qualquer exceção. Até mesmo os velhos humildes. Tratava-se de um ódio antiquíssimo, enraizado, transmitido de geração em geração, para o qual não era mais necessário apresentar qualquer tipo de justificativa. Qualquer motivo, até mesmo o mais absurdo, bastava para lhe dar razão. É evidente que ninguém mais acreditava que os judeus tivessem a ambição de dominar o mundo porque esse domínio lhes teria sido prometido, muito embora eles de fato estivessem se tornando cada vez mais ricos e cada vez mais poderosos, segundo se dizia, especialmente nos Estados Unidos. Mas histórias a respeito de uma terrível conspiração, tal qual, supostamente, aquela que é descrita no livro Os protocolos dos sábios de Sião, eram consideradas lorotas, assim como aquelas histórias que diziam respeito ao roubo de hóstias e ao assassinato ritual de crianças inocentes, apesar do desaparecimento nunca esclarecido da pequena Esther Solymossian. […] Simplesmente não gostávamos deles e isso era tão óbvio quanto gostar menos de gatos do que de cachorros, ou menos de percevejos do que de abelhas. E nós nos divertíamos em apresentar, para esse ódio, as mais absurdas justificativas.