Trecho do livro
Sou jornalista em grande parte para cobrir os maiores acontecimentos geopolíticos internacionais. Na minha carreira, já cobri eventos como a primeira Guerra de Gaza (2009), a queda de um presidente em Honduras (2009), o terremoto no Haiti (2010), a crise econômica argentina (2000-2001) e as eleições dos Estados Unidos de 2012, 2016 e agora em 2020. Entrevistei Bashar al-Assad (2010), o atual presidente do Líbano Michel Aoun e o então premiê Rafik Hariri. Estive a trabalho em lugares como Líbano, Síria, Jordânia, Egito, Israel, Palestina, Iêmen, Omã, Emirados Árabes.
Quando um jornalista está fazendo reportagens em uma zona de confl
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Sou jornalista em grande parte para cobrir os maiores acontecimentos geopolíticos internacionais. Na minha carreira, já cobri eventos como a primeira Guerra de Gaza (2009), a queda de um presidente em Honduras (2009), o terremoto no Haiti (2010), a crise econômica argentina (2000-2001) e as eleições dos Estados Unidos de 2012, 2016 e agora em 2020. Entrevistei Bashar al-Assad (2010), o atual presidente do Líbano Michel Aoun e o então premiê Rafik Hariri. Estive a trabalho em lugares como Líbano, Síria, Jordânia, Egito, Israel, Palestina, Iêmen, Omã, Emirados Árabes.
Quando um jornalista está fazendo reportagens em uma zona de conflito ou em um lugar onde ocorreu uma tragédia natural, no fundo ele sabe haver a possibilidade, mesmo nas situações mais remotas, de abandonar tudo e ir para uma região segura. Por exemplo, quando estive em Damasco em 2011, sabia que poderia a qualquer momento entrar em um táxi e em cerca de trinta minutos estaria na fronteira com o Líbano — naquela época, em uma situação incomparavelmente melhor do que a atual depois da explosão de agosto. Uma vez em Beirute, poderia pegar um voo para Paris, Londres, Istambul ou Frankfurt.
Poucos meses antes do agravamento da pandemia, embora ela provavelmente já estivesse circulando em Nova York, comentamos no programa Em Pauta, onde sou um dos comentaristas, sobre um pai com uma filha pequena na Síria, que ficava tentando distraí-la
com uma brincadeira sobre ser “avião ou bomba” o barulho que ouviam. Semanas depois, ainda que numa dimensão incomparavelmente menos perigosa, éramos nós tentando distrair nossos filhos impedidos de ir para a escola para não serem infectados por um vírus e precisando passar semanas reclusos dentro de casa.
Após uma semana no Haiti nos dias que se seguiram ao terremoto, peguei uma carona com a equipe da RBS-TV para ir de Porto Príncipe para a República Dominicana. Menos de uma hora após deixar a devastada capital haitiana, cruzamos a fronteira para o território dominicano. Imediatamente, o motorista ligou para a filha e começou a relatar o inferno que estava o Haiti. Ficamos com lágrimas nos olhos, com todas aquelas imagens voltando para a nossa cabeça. Paramos em uma cidade pequena e fomos tomar um refrigerante. Era uma normalidade absurda para quem havia visto tantos corpos e destruição nos dias anteriores. Mais algumas horas de viagem e eu estava no aeroporto de Santo Domingo, embarcando para Nova York. Um dia depois de presenciar a tragédia haitiana, eu estava no Central Park.