Trecho do livro
As bombas dos linchamentos devem ser desarmadas. Para isso, é preciso compreender as dinâmicas de grupos inorganizados nas redes sociais digitais; instaurar uma reflexão sobre as razões políticas para indivíduos estarem sendo expostos, bem como sobre a legitimidade dessas razões e de seus métodos; e ainda criticar os ideários de fundo na origem da percepção subjetiva que leva a muitas das denúncias que, por sua vez, conduzem a esses linchamentos.
Sobre esses ideários de fundo, um dos objetivos fundamentais deste livro é trazer para o debate público mais amplo certa movimentação das ideias que vêm impactando a v
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As bombas dos linchamentos devem ser desarmadas. Para isso, é preciso compreender as dinâmicas de grupos inorganizados nas redes sociais digitais; instaurar uma reflexão sobre as razões políticas para indivíduos estarem sendo expostos, bem como sobre a legitimidade dessas razões e de seus métodos; e ainda criticar os ideários de fundo na origem da percepção subjetiva que leva a muitas das denúncias que, por sua vez, conduzem a esses linchamentos.
Sobre esses ideários de fundo, um dos objetivos fundamentais deste livro é trazer para o debate público mais amplo certa movimentação das ideias que vêm impactando a vida das pessoas. Entre as características do que chamo de “novo espaço público” está o fato de que seu núcleo originador, as redes sociais digitais, é descentrado e fragmentado. Diferentemente das grandes mídias tradicionais, como a televisão aberta (que difunde para todos a mesma programação), as redes digitais mobilizam nichos (informações, ideários e dinâmicas que variam de acordo com os diversos segmentos). Nessa lógica, frequentemente certos nichos ignoram o que se passa em outros. Sem falar nas pessoas que não usam essas novas mídias. Desse modo, a movimentação de ideias a que me refiro permanece ignorada por muita gente. E as pessoas que mais tendem a sofrer as consequências pertencem a nichos específicos. Tudo isso, entretanto, é do interesse do conjunto da sociedade, uma vez que trata de problemas de justiça e igualdade.
Assim, é preciso compreender que perspectiva está orientando essa movimentação e seus impactos consequentes – em vez de apenas assistir com estupefação ou reagir por espasmos, sem maiores recursos teóricos, às eclosões periódicas das querelles digitais.